sábado, 13 de dezembro de 2008

MITOS ACERCA DA DOMINÂNCIA E COMPORTAMENTO DE LOBOS RELACIONADO COM CÃES - AVSAB

Texto retirado e traduzido do seguinte documento da AVSAB - American Veterinary Society of Animal Behaviour

O meu cão salta para cima de mim, rouba comida quando não estou a ver, tenta subir para o meu colo o tempo todo, pede festas e na maioria das vezes ignora-me quando o chamo. São estes sinais de dominância por parte dele?

Não. Nos sistemas sociais animais, dominância +e definida como o relacionamento entre dois ou mais indivíduos, estabelecido através da força, agressão e submissão de forma a obter-se prioridade aos recursos (Berstein 1981, Drews, 1993). A maioria dos problemas comportamentais descritos acima ocorrem não do desejo de obter um ranking mais alto, mas simplesmente porque são comportamentos que foram reforçados no passado. Por exemplo, os cães saltam para cima das pessoas e sobem para os colos porque quando o fazem, eles ganham a atenção dos donos. Da mesma forma, um cão não vem quando é chamado se está a ser reforçado pelos objectos ou actividades que os distraem ou se foi criada uma associação negativa à chamada através do castigo. Até roubar comida quando não estamos a ver, não é um display de dominância. Na vida selvagem, animais de ranking baixo roubam comida quando os animais de ranking superior não estão a guardar esses recursos. Esta é uma estratégia alternativa para over os recursos que eles querem. Aqueles que são recompensados com o sucesso, terão mais chances de repetir a “façanha”.

Porque os cães estão relacionados com os lobos, devemos usar o modelo social dos lobos para compreender os cães.

Enquanto que podemos tirar ideias dos tipos de comportamento que podemos estudar nos cães baseandomo-nos no que sabemos acerca dos lobos, o melhor modelo para compreender cães domésticos é mesmo o modelo dos cães domésticos. Os cães divergiram significativamente dos lobos nos últimos 15,000 anos. Os lobos, desenvolveram-se como caçadores e geralmente vivem em grupos consistindo maioritariamente de membros da sua família (Mech, 2000). Os membros desse pack cooperam na caça, em tomar conta das ninhadas. Num dado ano, heralmente apenas o macho a fêmea dominantes acasalam, de forma a que os recursos do pack inteiro possam-se focar nos mais novos. Os cães, por outro lado, desenvolveram-se como animais que comem restos na vez de caçadores (Coppinger e Coppinger 2002). Estes que eram os menos medrosos, sobreviveram dos restos e lixeiras dos humanos e reproduziram-se nesse ambiente. Actualmente, cães que vivem á solta (selvagens) vivem em grupos pequenos na vez de packs de cães coesivos, e nalguns casos passam a maior parte do tempo sózinhos (MacDonald e Carr 1995). Eles usualmente não cooperam para caçar ou para criar e virtualmente todos os machos e fêmeas têm a oportunidade de acasalar (Boitani et al 1995). Diferenças tão notáveis como estas nos sistemas socias, levam inevitavelmente a diferenças notáveis no comportamento.

Ouvi dizer que se eu achar que o meu cão é dominante, deverei rolá-lo no chão de costas num “alpha roll” e rosnar no focinho dele porque é isso que um lobo alpha faria.

Num pack de lobos, os alphas nunca rolam de costas os lobos de ranking mais baixo. Na vez disso, são os lobos de ranking mais baixo que mostram a sua submissão deliberadamente rolando-se de costas para o lobo dominante. Este movimento submisso é sinal de deferência, semelhante quando nós cumprimentamos a raínha ou o papa e nos ajoelhamos. Consequentemente o termo mais apropriado para essa postura seria na vez de “alpha roll”, “submissive roll” (Yin 2009).

Mesmo que os lobos não rolem os membros submissos de costas parece que resulta em alguns casos. Será que deverei tentar na mesma essa técnica com o meu cão agressivo?

A causa mais comum para agressão é o medo. Forçar um cão a rolar-se de costas no chão quando ele já está assustado não irá resolver o cerne do problema. Pior que isso, pode aumentar a agressão (AVSAB, 2007). Na realidade, um estudo recente feito em cães (Herron at al 2008) mostra que técnicas confrontacionais tais como bater, pontapetear o cão quando este demonstra comportamentos agresssivos, rosnar no focinho do cão, executar “alpha rolls”, olhar para o cão de cima para baixo e forçar uma “submissão” frequentemente desencadeiam respostas agressivas no cão. Esta agressão pode também ser direccionada a objectos inanimados, outros animais ou outras pessoas para além do dono. Mesmo castigos não físicos, como reprimendas verbais demasiado severas, ou abanar um dedo em frente a um cão, podem desencadear agressão defensiva se o cão se sentir ameaçado.

Ouvi dizer que para ser o líder, tenho que passar pelas portas primeiro e caminhar á frente do meu cão, como os lobos fazem.

Num pack de lobos, o lobo alpha apenas lidera a caça uma fracção do tempo (Peterson et al 2002). Para além disso quando estão a caçar, eles não mantém uma formação linear baseada no seu ranking.
Uma vez que o alpha come primeiro, deverei eu comer antes do meu cão?
Lobos alpha não têm necessariamente acesso prioritário á comida. Uma vez que o lobo tem acesso a comida pode não cedê-la a outro lobo independentemente do ranking do mesmo. Quando a comida ainda não está na posse de nenhum lobo, agressão ritualizada poderá ocorrer (rosnar, mostrar os dentes) sendo que lobos de ranking mais alto usualmente ganham. Mas claro isto são lobos em caça com comida em escassez e não cães e pessoas onde abunda a comida e não existe o factor caça.

Dar guloseimas aos cães pode torná-los dominantes.

Mesmo entre animais selvagens a partilha de comida não está relacionada com hierarquias. Lobos adultos frequentemente regurgitam comida para os mais novos. Machos de outros espécies frequementemente trazem comida às fêmeas como parte da “sedução”. Dar uma guloseima ao seu cão quando ele salta ou ladra leva ao fortalecimento desses comportamentos. Mas não lhe diz que ele está num ranking acima ou que tem prioridade a recursos.

Rosnar a um cão, mordê-lo ou fazer um gesto com a mão que finge ser uma garra imita o que os lobos fazem aos subordinados?

Não existem estudos nenhuns que provem isto. No entanto, como experiência pode perguntar a alguém que já tenha sido mordido por um cão se o facto de você lhe tocar com a mão em forma de garra tem um efeito semelhante ao mesmo quando ele foi mordido, ou se o seu rosnar ou morder é tão feroz como o de um cão. Em geral, nunca devemos assumir que as nossas acções mimicam as dos cães ou dos lobos. Na vez disso, deveremos avaliar as nossas interacções com os cães, observar as suas respostas e tentar entender como eles as percebem.

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