terça-feira, 3 de março de 2009

Técnicas de modificação comportamental antiquadas pela AVSAB - American Veterinary Society for Animal Behaviour

COMO LIDAR COM RECOMENDAÇÕES DE COMPORTAMENTO ANTIQUADAS

por Dr. Sophia Yin, DVM,MS (Ciência Animal) – escrito para veterinários

Está você ou o seu pessoal a recomendar que clientes aprendam mais observando programas tais como “O Encantador de Cães”. Se sim, você poderá estar a prejudicá-los mais do que a ajudá-los.
O “Encantador de Cães” e outros programas de cães que se baseiam em castigos e teorias da dominância, têm alguns benefícios, diz Debra Horwitz, DVM, DACVB, presidente do Colégio Americano para Veterinários Comportamentalistas. “Estes programas mostram aos donos que outras pessoas também têm problemas com os seus cães e que não estão portanto sós. Os protagonistas dos shows também falam da necessidade de exercitar o seu cão e de lhe impôr regras, ambos são bons conselhos”.

Mas, Horwitz também diz que estes programas têm grandes falhas. “Estes treinadores usualmente atribuem problemas comportamentais a dominância, quando o comportamento do cão pode estar a ser exibido porque este está anseoso ou medroso”.
Uma permissa errada

Na realidade, treinadores que se baseiam na teoria da dominância falham redondamente em reconhecer que dominância implica o relacionamento entre dois indivíduos que se estabelece através da força, agressão e submissão, ao invés da prioridade de acesso aos recursos, tais como comida, local de descanso preferencial e companheiro para procriar. Nestes relacionamentos, uma posição mais alta na hierarquia só é conseguida quando um indivíduo decide deferir regularmente. Treinadores tendem a considerar dominância como uma característica individual de um animal e atribuem a maioria dos comportamentos, ao desejo do animal de obter um ranking maior.

Horwitz, que se encontra no quadro editorial do Fórum de veterinários explica que a atribuição de tal característica está errada. “Muitos comportamento nem se encaixam no paradigma das relações dominantes-submissas. Por exemplo, se um cão ladra a pessoas quando estas passam e se o dono grita ao cão para parar, o cão provavelmente não irá perceber que os gritos do dono significam que ele se cale. Ao invés disso, o cão pode estar a “pensar” que é o seu trabalho guardar o seu território”. Normalmente quer apenas dizer que o cão não foi ensinado a calar-se por comando.

Mas então, qual o problema de designarmos as motivações erradas para estes comportamentos? “O problema com a dominância” ela diz “ é que se os donos dos cães, pensam que todos os comportamentos errados que o cão exibe são causados porque o cão os está a tentar controlar, na vez de se aperceberem que muitos dos problemas comportamentais graves são causados por medo e ansiedade, os donos podem sentir que têm que controlar o cão o tempo todo, na vez de o ensiná-lo uma resposta mais apropriada”.

Um exemplo dos pobres e fracos resultados obtidos através do uso de castigos é quando um cão ladra a crianças. Um cão que tem medo de crianças muitas vezes é um que aprendeu que a melhor defesa é o ataque. Poderá ladrar, rosnar ou até atirar-se a crianças que se aproximem de forma a mantê-las longe. Ao invés de ir ao cerne da questão, o medo, os treinadores que se baseiam na força ou no paradigma da dominância ensinarão os donos a usarem correcções verbais, coleiras estranguladoras ou de bicos para parar o ladrar. Usualmente, o problema fica pior.

Disfarçando o problema
John Ciribassi, Presidente da Sociedade Veterinária Americana de Comportamento Animal (AVSAB) explica como o castigo pode eventualmente deteriorar ou piorar um já comportamento problemático de um cão. “O senão de se usarem castigos é que tudo aquilo que o dono do cão está a conseguir é suprimir o comportamento temporariamente sem modificar a verdadeira causa do comportamento”. No caso do cão que ladra, técnicas baseadas no castigo, poderão suprimir o ladrar mas falha em resolver a questão do cão que tem medo.

Para além disso, Ciribassi diz “ O cão pode ainda associar o castigo com a criança, aumentado a probabilidade do cão se tornar ainda mais agressivo com crianças no futuro”. Esta combinação de disfarçar a expressão exterior do medo enquanto expondo o cão ao estímulo que lhe causa o medo – as crianças – pode levar a uma situação na qual um cão eventualmente ataca sem aviso”.
De acordo com Ciribassi, mesmo quando o medo não está involvido o castigo pode ter efeitos adversos “O castigo interfere com a relacionamento e laço que existe entre dono e o animal. Um problema pode surgir quando um cão deixa de confiar no dono porque é incapaz de antecipar o que o dono irá fazer em determinadas situações”. Isto ocorre, quando donos castigam inconsistentemente. Por vezes os donos reforçam o cão pelo mesmo comportamento pelo qual o castigam outras vezes. Pior que isso, porque o castigo, é muitas vezes consequência da ira do dono, este pode surgir apenas após o comportamento ter ocorrido na vez de enquanto o cão o está a exibir. O castigo também pode ser intenso demais ou prolongar-se por demasiado tempo.
Podemos pensar que estes efeitos adversos são raros, mas são suficientemente comuns e suficientemente detrimentais que as condutas da AVSAB acerca do “Uso do castigo para lidar com problemas comportamentais” dá enfâse ao facto que “ veterinários especializados em comportamento não deverão usar o castigo como solução no tratamento de problemas comportamentais. Consequentemente, a AVSAB recomenda que todos os veterinários (mesmo os não especiliazados) sigam esta recomendação”.
Por outro lado, Horwitz e Ciribassi e a AVSAB dizem que o castigo nãod everá ser banido. Ao invés eles colocam enfâse no facto de que o maior problema com o castigo é que apenas diz ao animal o que não deve fazer e falha em direccionar o animal para comportamentos mais apropriados.
Howitz e Ciribassi dizem que modificação comportamental deverá focar-se no reforço positivo de comportamentos desejáveis, removendo o reforço para comportamentos indesejáveis e focando-se nos factores emocionais e ambientais que originam o comportamento problemático. Esta aproximação fornece uma melhor entendimento do comportamento do animal.
Mais ainda, as condutas da AVSAB recomendam que o castigo deverá ser supervisionado apenas por indivíduos que conseguem entender todos os efeitos e consequências que o castigo pode originar, de forma a que o dono do cão possa observar se estes efeitos ocorrem ao longo de um curto ou longo período de tempo, e lhes possa explicar como pode reverter esses mesmo efeitos, caso eles surjam.

A Dr. Yin tem um website http://www.behavior4veterinarians.com

1 comentário:

Unknown disse...

Muito bom. Concordo plenamente com o artigo.
Parabéns por passar informações tão importantes pra gente!!!