sábado, 27 de agosto de 2011

Entrevista com John Bradshaw acerca do seu último livro "In Defence of Dogs"

http://www.guardian.co.uk/science/2011/jul/17/dog-training-john-bradshaw-animal-behaviour

O Professor John Bradshaw está com o punho no ar – você até podia pensar que esta é uma forma nova de se aproximar de um estranho, apenas ele está a aproximar-se do meu cão, Lily. Está a dar-lhe a oportunidade de o cheirar. Antes de continuarmos, é preciso dizer que o Dr. Bradshaw não é um treinador de cães. Ele não veio a minha casa para transformar a Lily num cão diferente. Ele é um cientista – fundador e director do Instituto de Antrozooloia da Universidade de Bristol – que dedicou os últimos 25 anos ao estudo do cão doméstico e que acabou de escrever o livro fabuloso intitulado “In Defence of the Dog” que já é nos EUA um bestseller e que se está a tornar um livro obrigatório para todos aqueles que amam cães. Bradshaw não está interessado “naquilo que se diz” acerca dos cães. Ele não debita opiniões. O seu estilo é tolerante, claro e benigno e está interessado apenas naquilo que a ciência pode provar. O seu livro é uma revelação – uma nova forma de entender os cães, uma reviravolta naquilo que podemos chamar de dogma tradicional.
A primeira coisa que ele propõe que repensemos está tão entranhada que alguns donos irão sentir muitas dificuldades em ajustar-se. Nós temos essa ideia martelada em nós por treinadores como Cesar Millan que dizem que porque os cães descenderam dos lobos (e tendo o DNA idêntico), eles comportam-se como lobos e podem ser entendidos como animais de matilha. O pensamento proliferado é que os cães nos querem “dominar” e que a nossa tarefa é assertivarmo-nos como líderes de uma matilha – fêmeas e machos alpha - e não deixar os cães “ganharem a batalha”. (Eu lembro de estar numa aula de cachorros com a Lily que estava a choramingar enquanto a treinadora falava. A treinadora chamou-me a atenção e disse-me que a minha cadela estava a demonstrar comportamentos “dominantes”.) Bradshaw não contesta que o DNA é idêntico. O seu argumento assenta no facto que os cientistas têm estudado os lobos errados e a tirar as conclusões erradas. Ele diz: “As pessoas têm estudados os lobos americanos Timber porque o lobo Europeu está praticamente extinto. E o lobo americano timber não está sequer próximo do ancestral do cão doméstico”.

A hipótese de Bradshaw é que o cão doméstico descendem de lobos mais sociáveis e que “seja lá qual fosse o ancestral do cão doméstico” hoje em dia ele já não existe. Os lobos que hoje vivem são espécimens diferentes, como se fossem diamantes em bruto que conseguiram sobreviver a chacina que o mundo criou para eles. E ainda existe algo mais os novos estudos - incluindo os estudos feitos em cães que habitam aldeias na índios – e que mostram que os cães não se organizam em matilhas como os lobos. Eles não se organizam da mesma forma que os lobos. Os cães não estão a tentar ou almejar a dominação da casa. Bradshaw acredita que o nosso relacionamento com os cães tem sido distorcido. Ele escreve: “ A ideia mais anedótica e perniciosa que corre no treino canino é aquela que diz que o cão está inserido numa hierarquia dominante. Ele explica que aparentemente os cães dominantes não são ambiciosos mas sim ansiosos. Ele diz “eles não querem controlar as pessoas, eles querem controlar as suas vidas”. Aliás é isso que todos nós queremos – ter controlo total das nossas vidas. É uma necessidade biológica fundamental.

Mas o Bradshaw está longe de sugerir que deixemos de nos esforçarmos para treinarmos os nossos cães (apenas queremos banir os métodos de treino brutais). Mas eu fico a pensar o que diria o Cesar Millan ou os seus seguidores em relação a estes facto. Cesar Millan, influente “encantador de cães” norte americano fez uma carreira na televisão a explicar “psicologia” canina com termos misturados de lobos. Bradshaw diz: “não gosto de demonizar Millan ele está sob grande pressão”. Numa recente tour pelo reino unido, alguém disse a Millan que os seus métodos estavam pertos de quebrar as regras da Defra (que proíbe treino aversivo). “Ele é esperto e sabe para onde o vento está a soprar. Ele está a começar a usar métodos baseados no reforço positivo. Tudo o que ele tem dito e que se baseia nos lobos não é baseado na ciência”. Para além disso, como Bradshaw observa, existem treinadores bem mais aversivos do que ele - tal como os extremamente influente Monges de New Skete dos EUA que “que soam como se tivessem que ser as pessoas mais gentis do mundo” mas que baseiam os seus métodos extremamente punitivos na biologia dos lobos: eles continuam a aconselhar as pessoas a sacudirem os cachorros pelos cachaços porque é isso que as mães lobas fazem às suas crias”.

Bradshaw favorece treino baseado nas recompensas. A ciência mais recente mostra que os cães aprendem a “agradar os donos”. É óptimo ouvir isto: faz-nos sentir fantásticos e contentes por sermos donos de cães (e aliviados por não termos mais que pensar nas lutas primitivas por poder).

Bradshaw aproximou-se pela primeira vez pelos cães, por causa do sentido do olfacto e do seu interesse na ciência do olfacto. “Eu costumava estudar formigas, vespas, moscas….depois pensei: porque é que não posso estender os meus estudos ainda mais?” Quando começou há cerca de 25 anos atrás ele fazia parte duma minoria sem glória. Hoje e dia a ciência canina é “uma grande indústrica – com cerca de 200 a 300 pessoas a trabalhar diariamente na ciência do bem estar animal, e um interesse gradual por parte dos veterinários em quererem especializar-se em comportamento canino. Mas o motivo principal, admite Bradshaw, é que depois do 11 de Setembro que o interesse nos cães de busca e salvamento aumentou grandemente. Os cães hoje em dia são usados não só para detecção de narcóticos mas também para ajudarem epilépticos (capazes de alertar os humanos quando estão à beira de um ataque de epilepsia), cheirarem barbatanas de tubarões e até detectarem cancro. No seu livro, Bradshaw segue as capacidades brilhantes do nariz canino (foi interessante descobrir que enquanto que os cães adoram cheirar outros cães, nem por isso gostam de ser cheirados). Ele avisa-nos para sermos educados e aprendermos acerca das capacidades de cheiro dos nossos cães.

Eu tinha esperado que ele tivesse uma solução para quando o sentido do cheiro entra em descontrolo: quando temos um frango no forno, a Lily fica descontrolada com desejos e começa a ladrar. O que ele disse foi: ignora-a (eu acho que ele está do lado dela).

Para aqueles interessados nas emoções dos cães, In Defence of Dogs, também – supreendentemente - nos educa acerca do sentimento. O primeiro choque é quando ele clarifica que os cães não sentem culpa. Isso que dizer que aquele olhar de soslaio que a Lilly me dá quando é encontrada ilegalmente em cima do sofá (arrastando-se de mansinho para fora do sofá) não é culpa? Bradshaw explica que ela pode ter associado estar no sofá ao comportamento irado do dono, mas que isso não é o mesmo que culpa ou o mesmo do que ter o equipamento mental para diferenciar entre certo e errado. Menos surpreendente é Bradshaw achar que os cães são capazes de sentir ciúmes (quando abraço o meu marido, a Lily quer sempre fazer parte). Mas o ciúme não é o mesmo que o consumidor ciúme de Otelo: “Eles podem ser capazes de sentir ciúmes no momento mas não ser tornam obsessivos em relação a isso, ou não tentam cuscar o facebook à procura de provas.

Aquilo que Bradshaw diz e que é mais gratificante e incrível é que os cães se interessam mais por pessoas do que por outros cães. Esta afirmação não é resultado de uma opinião ou desejo mas sim resultado de um estudo da “co-evolução de duas espécies que se têm desenvolvido uma para a outra”. Bradshaw diz que desde que abrem os olhos os cachorros começam a formar laços com as pessoas “completamente, espontaneamente e o mais que conseguirem”.

Eles escreve acerca do amor (a ciência chama-lhe “ligação”) mas a resposta à pergunta: “o seu cão ama-o?” a resposta é “claro que sim!”. As hormonas oxytocinas são accionadas pelo amor “os cães experienciam uma injecção de oxytocina durante interacções amigáveis com pessoas”. E explica, “os cães sentem realmente falta dos seus donos quando se separam deles”. Duma média de oito milhões de cães no reino unido, estima-se que metade sofra de algum grau de ansiedade por separação. A atitude mais intervencionista que Bradshaw tem acerca no livro é precisamente neste tema, onde dá instruções excelentes e fáceis de seguir para evitar que um cão sinta ansiedade por separação).

Bradshaw está determinado a tornar “vida de cão” numa frase positiva. Nós falamos acerca do futuro e ele expressa a urgência de reformar toda a criação de raças puras para assegurarmos uma vida saudável para os cães. Nós falamos do passado – e dos cães que fizeram parte da vida dele: Ginger (Cairn Terrier que pertencia ao seu avô); Alexis (um Jack russekl/lab – um vadio); Ivan (um labrador/airdale – perseguidor de esquilos); Bruno (um labrador que não era brilhante e que nunca aprendeu a fazer retrieve mas que adoravam) e o seu cão presente Murphy, um cão de tabalho. Também falamos de como os cães lêem a nossa linguagem corporal – e torna uma pessoa determinada em querer ler a linguagem do cão correctamente (ele mesmo que estuda detalhadamente cada abanar de cauda e movimento de orelhas dos cães). Eu pergunto acerca do título do livro: será que os cães realmente precisam de ser defendidos? “Eles precisam de ser defendidos daqueles pessoas que persistem em usar métodos de treino antiquados e não querem ouvir o que a ciência tem para nos dizer”.

2 comentários:

Emmanuelle Moraes disse...

Muito bom!
Adorei quando diz sobre tornar a expressão: "Uma vida de cão" em algo bom!! E é isto mesmo!

Unknown disse...

Muito bom... é isso mesmo!