sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Interacções entre cães, devo intervir ou não? - Parte II

Porquê intervir?

Quando um cachorro não consegue ver-se livre do outro – Se você vê que o seu cachorro está com dificuldade em afastar-se daquele cachorro persistente e alegre que o persegue para brincar está na hora de intervir. Se o seu cachorro foge para baixo da mesa, se refugia por trás das suas pernas, foge para baixo das cadeiras e não consegue ver-se livre do alegre pateta que o persegue, está na hora de intervir. A importância de intervir nesse momento vai reflectir grandemente no comportamento futuro de ambos os cachorros. Ao impedir que o seu cachorro seja perseguido evita que ele tenha que escalar o comportamento de forma a alcançar o seu objectivo. Vamos ver isto como uma sequência de comportamentos:

Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2
Cachorro
foge para baixo da mesa O outro persegue-o


Cachorro
foge para trás das suas pernas O outro persegue-o

Cachorro
corre para se afastar O outro persegue-o

Nesta sequência de eventos o seu cachorro está a aprender que fugir não é uma forma eficaz de aumentar a distância e manter-se seguro quando se sente ameaçado ou invadido pela presença de outro cão.

Portanto o cachorro adopta uma nova medida

Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2

Cachorro
rosna enquanto foge O outro persegue-o

Cachorro
ladra e abocanha o ar O outro persegue-o

Cachorro
morde o outro O outro pára de o perseguir

Nesta última sequência de eventos o que aconteceu foi que o seu cachorro 1 aprendeu que a forma mais eficaz de afastar cães que o incomodam e de se proteger é “morder o outro cão”. As probabilidades de no futuro o cachorro 1 usar agressão para lidar com uma situação idêntica
aumentaram significativamente. Por outro lado, o cachorro 2 aprendeu a ignorar todos os outros sinais dos cães, ele está a aprender a assediar os cães para conseguir brincar com os mesmos. Aprendeu também que quando tenta brincar com os cães estes mordem e sai magoado de um relacionamento que tinha como intenção primária ser um saudável. As probabilidades no futuro do cachorro 2 usar agressão durante as brincadeiras como forma de defesa, aumentaram grandemente. É por estes motivos que é tão importante intervir durante os relacionamentos dos cachorros, para evitar que no futuro os comportamentos antagonisticos sejam os preferidos. Desentendimentos destes nas interacções entre os cachorros podem levar a cães adultos ansiosos e que constantemente se juntam em brigas.

Quando Intervir

A intervenção desse ser atempada. Intervir demasiado tarde ou cedo demais pode ter os resultados opostos daqueles desejados.

No caso explicado acima por exemplo a intervenção deve ser a seguinte:

Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2

Cachorro
foge para baixo da mesa O outro persegue-o

Cachorro foge para trás das suas pernas O outro persegue-o

Cachorro corre para se afastar O outro persegue-o

INTERVIR

Pode inclusivé intervir mais cedo. A questão é que existem caes que fogem durante muito tempo antes de escalar o comportamento. Outros, no entanto, ao fim de 2 ou 3 tentativas mudam
automaticamente de estratégia. Em caso de não saber muito bem o que o seu cachorro poderá fazer, previna-se e intervenha mais cedo. Se já conhecer o seu cachorro e souber que ele é por exemplo paciente, intervenha à 3ª ou 4ª tentativa de afastamento.

Como Intervir

A forma de intervir deve uma apoiada no julgamento e avaliação lógica da situação, executada com calma e neutralidade. Não deve alimentar a ansiedade ou stress que muitas vezes surge nestas situações. Lembre-se que ambos os cães têm as melhores intenções e cabe-nos a
nós guiá-los para que possam adequadamente aprender como comunica-las evitando ao máximo conflitos graves que serão transportados para interacções futuras.
Assim quando souber quando intervir, a intervençao deve ser calma. Agarrar na coleira do cão deve ser feito, só e apenas se o cão tiver uma dessensibilização ou estiver completamente relaxado em que o segurem pela mesma. Lembre-se que ao impedir que um cachorro continue
a perseguir outro segurando pela coleira vai criar ansiedade por isso deve focar-se em criar uma associação positiva a esta acção. Dê várias recompensas de alto valor enquanto segura na coleira do cão e mantenha-o interessado em si.

Afaste-se do local e quebre o contacto visual entre os dois cachorros. Após a intervenção aguarde uns momentos. Pode inclusivé se o cachorro estiver focado em si, dar algums recompensas pela
atenção que este lhe está a dar durante uns 3 a 5 minutos e inclusivé incluir alguns exercícios de senta e deita. Quando vir que o cachorro está mais calmo pode voltar a deixar a interacção ocorrer (avaliando as intenções do outro cachorro ou se devem terminar de vez a interacção) ou então pode ausentar-se do local.

Pontos a reter:
  • Nunca se deve zangar com os cachorros
  • Nunca deve agir emotivamente - afaste os cachorros uns dos outros de forma calma e
    controlada com movimentos calmos, sem berrar ou se irritar
  • Associe o afastamento a algo agradável (senão torna-se uma punição) - dando várias recompensas de alto valor (carne, ou brincando ao tug, etc…)
  • Aumente a distância entre os dois cachorros - por vezes é necessário afastar-se
    bastante do outro cão para conseguir que o seu lhe preste atenção ou se interesse pelo que lhe tem para oferecer e para conseguir que se acalme
  • Afaste os cachorros ou cães - especialmente se um deles estiver a mostrar claros sinais de stress ou de querer aumentar a distância entre os dois (fugindo ou demonstrando irritação). Se um dos cachorros rosnar ou mostrar os dentes, afaste-os imediatamente
  • Não deixe que cães de porte diferente interajam sem supervisão – se um dos
    cachorros for bastante maior do que o outro, ensine o cachorro de porte grande
    a permanecer deitado e não saltar para cima do mais pequeno. Para tal segure o
    cachorro grande se este se tentar saltar para cima do outro, conte até 10 e volte a soltar sempre prestando atenção para evitar que se atropelem.
  • Intervenha as vezes que forem necessárias, mas se ambos os cachorros estiverem a interagir bem a duma forma saudável deixe o relacionamento decorrer
  • Nunca punir ou castigar os cachorros por interacções que NÓS consideramos inadequadas
    - interacções inadequadas devem ser controladas e não suprimidas. A nossa responsabilidade é ensinar formas mais eficazes de comunicar e interagir. Punição ensina o cachorro a suprimir sinais comunicativos e a recear o que as suas interacções desencadeiam no ambiente ao ser redor.
  • Afaste-se de julgamentos humanos acerca das interacções – mais do que perder tempo a
    assumir que determinados comportamentos são originários de teimosia, dominância
    ou típicos da raça, limite-se a ter uma intervenção neutra e eficaz. Se você assumir que um cão age ou comunica determinado comportamento “porque é dominante” irá recair no erro de estar a transpor a sua interpretação pessoal do que vê e pode inadvertidamente promover comportamentos que trarão problemas graves no futuro.

O que nunca deve fazer…

  • Nunca mas nunca deve punir um cão por uma interacção. Lembre-se que a punição SUPRIME o sinal comunicativo mas não resolve o que o despoleta, nem ensina ao cão uma alternativa para lidar com a situação. O cão que vê o seu sinal comunicativo suprimido pelas pessoas que o deviam proteger, aprende que na presença dessas pessoas não pode comunicar adequadamente para evitar a punição. Vejamos então o que pode acontecer:

Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2

Cachorro foge para baixo da mesa O outro persegue-o

Cachorro foge para trás das suas pernas O outro persegue-o

Cachorro corre para se afastar O outro persegue-o

Cachorro rosna enquanto foge PUNIÇÃO POR ROSNAR O outro persegue-o

Com a punição o que ensinamos ao cão é que rosnar origina uma punição e para evitar futuras punições o cão vai evitar rosnar, no entanto agora o cão não sabe o que fazer para evitar ser perseguido pelo outro cão. O que provavelmente acontecerá é isto:

Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2

Cachorro
suprime o sinal comunicativo

Cachorro
morde com severidade Cachorro sente-se atacado e é desencadeada uma luta

A supressão do sinal comunicativo leva a que o cachorro passe automaticamente para um comportamento altamente antagónico e agressivo como forma de defesa o que por seu lado desencadeia uma posição de defesa por parte do outro cão que dada a severidade do ataque. Como o cão aprendeu a suprimir o sinal comunicativo o outro cão na ausência de sinais
investe com mais rapidez despoletando confusões e ataques mais graves e sérios.

2 comentários:

Mariana disse...

Ameeei esses textos Cláudia!
sempre me perguntei se devia ou não intervir, quando, como, ficava na maior dúvida!
muito obrigada!!
Beijos

Léa De Luca disse...

Claudia, voce poderia por favor me indicar nomes de pessoas que seguem essa linha positiva aqui na cidade de Sao Paulo, Brasil? Estou precisando de ajuda com meu Golden macho de um ano. Obrigada! Léa